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Mostrando postagens de dezembro, 2017
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poema de Demétrio Panarotto buchada a operação faca no peito esta semana que acontece no largo próximo da sua casa acaba de sangrar vários manifestantes que reclamam que nem ao menos a semântica da ação foi respeitada pois o alvo principal das fardas foi o bucho dos participantes bucho este que se espalhava pela praça transformada num grande matadouro era bucho pra todo lado a buchada exposta parecia de bode parecia outras coisas também aliás bucho é bucho e vice-versa e os animais sangrando após recolherem limparem os seus órgãos e recolocá-los nos seus respectivos lugares grudaram as barrigas com fitas faixas ataduras nestas horas é preciso estômago forte esta é a principal regra para a sobrevivência quando se vai a uma manifestação ontem hoje amanhã sempre preciso repetir sempre e mesmo com algumas baixas os manifestantes seguem firmes preparam as faixas para a próxima manifestação - não é o bucho das pessoas espalhad

xamixungas

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poema da Aldo Votto o negro  na casa grande não é menos negro  que na senzala mas fala que sinhô é homem bom porque menos negro pensa que é ei, tu aí! que a violência o tesão  dos gens ao azar a pele clareou o cabelo alisou ei, tu aí! sem os mais escuros estarás em apuros te lembrarão que és mestiço a imagem não apaga  a mestiçagem pois perseguirão teus cromossomas ei, tu aí! a pobreza a prisão a humilhação a exclusão a morte vil são sintomas ei, tu aí! a doença é a demência de quem crê raça como razão como ração gargantuesca grotesca carnavalesca para parasitas chupins cúpidos xamixungas inchadas ei, tu aí te junta aos teus é pouco, é nada não ser racista seja qual for o tom da pele açoitada é preciso ser antirracista

BOULOS E A BOULÉ

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poema de Leonardo Antunes BOULOS E A BOULÉ como os heróis helênicos tardassem a vinda por que há tanto se aguardava e no horizonte não se visse algures nau nenhuma, erguemos engenhosos nosso próprio  cavalo de madeira em praça pública e enchemo-lo de heróis por Zeus nutridos, nobilíssimos, e agora dia e noite com seus cetros aurilavralados eles nos ensinam a dura disciplina necessária no servir. São Paulo, 17/01/2017

zuado

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poema de Marlon Pires Ramos Ô zuado Onti nem fui no trampo Choveu pra caralho pae Deu ruim nas telha e pá Mas agora tá de boas Minha rua não tem asfalto parça Tô com barro até As canela Onde tem asfalto É onde passa o bus Ficô tudo alagado Tipo rio mesmo Nem passou bus nada Viamão é tenso Pq nem chove As vezes e Falta os bus Tenso. Nisso de ficar em casa A vó contou umas história Eram 6 irmãos Alcides Alcibides João Leontino Terezinha Derli Vivo hoje Só ela Mais o tio Leontino E o tio Derli. Todos filhos Da Dona Cedália A vó fala que Era companheira afu Da mãe Ajudava muito e tal. A vó diz que Queria ter passado Mais tempo com ela Casou com o vô 17 anos tinha Veio correndo pra Porto Alegre Dona Cedália Segurou as pontas sozinha lá A vó se arrepende. Bah maior teto.

covardia

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poema de Jorge Fróes Covardia Em que poema da História cabe um homem que após tentativa de roubo a outro homem é apanhado, espancado, e já desfalecido pela surra, recebe sobre sua cabeça, por três vezes, de um dos homens que o espancaram, golpes com pedaços de laje. As mãos erguem o pedaço de laje e atingem a cabeça do homem caído (indefeso), Suas pernas tremem fortemente, em seguida outro golpe, de cima abaixo, a laje é jogada, na tentativa de eliminar todas as vidas que ali pudessem vir a ser. Agora, suas pernas mexem-se bem pouquinho. Nada mais se movimenta no terceiro golpe. O que se movimenta e se ergue é a covardia dos homens que o agridem (sepultura) com um pedaço de laje. Eu não vi isto. Não li sobre isto. Não vi filme sobre isto. Sobre isto, o que em mim circula, é o que um amigo meu contou num ônibus, em que apressadamente nos despedimos, não sem antes me dizer que estivera no local e perguntou a

viva o futebol

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poema de Guto Leite viva o futebol a folha de pagamento mensal do barcelona cobre o salário de todos os professores estaduais do rs a folha nada seca de pagamento mensal de um clube de futebol o barcelona põe o leite o pão a carne os grãos na mesa das famílias de todos os professores estaduais do rs um craque do barcelona digamos o neymar não o messi recebe em sua conta ao final de dez anos de dribles chapéus passes e gols o equivalente à reforma tão celebrada do hospital de clínicas que atende no mesmo período seis milhões de gaúchos metade da população do estado a alegria que um craque do barcelona dá ao mundo por dez anos vale nesse mesmo intervalo o bem cuidar gratuito da saúde de seis milhões de gaúchos cem beira-rios lotados de doentes em suas macas soros gazes curativos analgésicos assistem a magia do barcelona às quartas e sábados mesmo cara a tv a cabo quando um craqu

de Omolokun

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poema de Eliane Marques Children de Omolokun Duzentas em prontidão para a degola As galochas fincadas na fábula das facas   diretamente contra a cara Assim a posse do chão para as conchas Vês? Aqui o primogênito de pescoço-elástico e caracóis na boca Teima que atesoura o cabelo sob a luz do búfalo nas savanas E tem meus cílios à sombra Quando a cera de suas orelhas até no açude remoto Omi osun ou sokoto, o chamarei Afolabe Mas aqui o primogênito de goma na garganta No terceiro degrau do barranco (de cima para baixo) A degola ainda mais branca Afiado o gládio dos anéis como se os pés de ganso Vês? O degolador (à paisana) – pendente da voz de mando mais franca É jubileu, mas não tirésias Soube-se que um barbeiro assim kristallnacht tachac tachac tachac      Bom, tolera-se que pequeno (não menos de metro e meio e nem shylock) Porém a faca sempre será flama Um uivo às ataduras algodoadas e aos botões de sua

à burrice

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poema de Felipe Haffner ode à burrice O burro nunca é burro sozinho precisa do recolhimento dos outros e principalmente não pesar por si achando que assim pensa menos A burrice é notória abusa da notoriedade das frases feitas A idoneidade é a premissa da burrice é a base da celebração da burrice O burro não interpreta mal, o mau O burro é enfático em sua burrice O burro tem um falar antecipado uniforme e menoscabado como o burro gosta de uniforme! Por isso é tão fácil ser burro a burrice é autoexplicativa Um burro não enxerga as enormes orelhas que tem olha para frente o coitado e vê outros tão burros quanto

menino no changue

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poema de José Antônio Silva Menino no changue o menino o guri o garoto o moleque, o cabecinha o puto o catraio o pirralho o mandalete, o miúdo o piá o curumim o rapazinho, o petiz o cavunje o pequeno o neguinho - é aquele lá caído no chão. No changue. Uma folha de jornal já cobre. Não cobre?