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Mostrando postagens de maio, 2018

prefere a sombra

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poema da Marilia Kubota  [ arte:Nakamura Daizaburo] condenada pelo sol a ficar sob teu jugo prefere a sombra não confunda, triste sombras, não trevas guarda no bolso a mulher minúscula sombrinha de papel arrependimento? o sol no labirinto cega perder-se é achar a chave da alegria

cânhamo

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poema de Rita Santana Cânhamo O tempo envelhece o telhado E desola os meus ovários. Teço cânhamo em São Luís. Teço o dia inteiro, Teço a noite inteira, Teço em todas as horas do meu dia O tecido que não vestirei. Invado rios em busca Das dunas e me acanho diante Do teu nome de assombros Diante da tua boca de veleiros Que não me deixa falar Diante da tua presença Que não me deixa existir. Minha terra tem buritis E no meu coração Há um curso de cicios silenciados. Discursos emudecidos. Há emaranhados de maranhões em mim

CASAMENTOS REAIS

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poema de Maria Alice Bragança DE REAIS CASAMENTOS REAIS Mudar para continuar... Renovados princípes, decantadas princesas... ...e todos a esperar os ossos que caem de suas mesas. Impérios, monarquias, olhos nos minérios sonhos de plebeias duquesas ...e todos a aguardar os ossos que caem de suas mesas. Mudar para continuar, segue o império e suas colônias, agora de pensamentos. Novas barbies, novas altezas... ...e todos a lamber os ossos que caem de suas mesas. Roubos, estupros, saques vestindo fraques. Uma nova escravidão,  olhos presos na televisão. ...e todos a remoer os ossos que caem de suas mesas. Monarquias do espetáculo, pão e circo, miséria e suas heranças, na troca de alianças. ...e todos a mendigar os ossos que caem de suas mesas. Quanta beleza não há, quanta esperteza há, para manter vossa alteza. Mudar para continuar...

o acrobata

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poema de Silvana Guimarães [imagem de Diane Arbus] o acrobata para carlos augusto lima eu sou a mulher barbada do semáforo e você me olha de esguelha com nojo fecha as mãos ao volante com força trinca os dentes aumenta o som e se apavora com o brilho do meu dente aquele de ouro no lugar do que perdi com um soco numa noite de chuva não sou mais o triste fantoche que amava o engolidor de fogo e vivia  com o atirador de facas: sobrevivi a minha miséria & a minha ousadia lhe deixam constrangido: agora você ignora meus panos de prato de chão acelera de volta para casa onde lhe espera a mesma solidão às avessas o seu silêncio debatendo-se entre a  louça na pia & o recibo da pensão alimentícia: sim o que lhe resta então broder: improvisar um samba-enredo louvando as espetaculares conquistas  femininas da última década: a mesma daquelas almas fêmeas que existiram para seu usufruto: apenas meras biscas aí incluída a mulher armada que partiu

saudade da comidinha lá de casa

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poema de Ricardo Pedrosa Alves Em plena Nova Iorque. Que saudade da comidinha lá de casa o gângster coça o saco pelo bolso da calça (deixemo-lo) o outro é aquela criança que fazia continência na infância e que sabe que a águia (pensa) voa para cima  rija e altissonante (de barriga estufada acha que é a águia) (note: lembra Mazzaropi) também repare o equívoco pose de atleta em evento cívico aquele andar macaqueiro do povo caubói e um jaquetão meio longo que o encurta mais (a ladra da apae e a artista do povo completam o bloco)

kur ity ba

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poema de Aldo Votto kur ity ba - Praça Tiradentes, 1937 *baseado em texto original de Vinicius Carvalho/2018 cidade infundada índios, só a língua nome, só o nome deboche da história herói da liberdade designa praça arcaica troncos trocados por braços em riste todos homens de bem troantes machos sigma das copas em taça só o verde-oliva da voz dos índios só o anauê cuspido praça sossegada ninho em paz oitenta anos choco e viveiro eclodiram sóboles e por metáboles viraram hipérboles armadas de chumbo madrugada covarde balas contra a ideia sob tendas indefesas projéteis patrocinados doutores e confrarias a purgar seus pavores beduínos sob uma estrela ojerizas herdadas mortos-vivos da praça cazumbis hidrófobos bisavôs galinhas-verdes e então? daí que... " mais amor, por favor "... " liberdade "... só em norueguês ou na canção do inconteste

a mais cara fé

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poema de Guellwaar Adún A mais cara fé deboches católicos à mesa uma hóstia salgada no ódio um vinho que é o sangue do povo a máscara cai e é o retrato da igreja a língua do fábio semeia deboches sem horizonte futuro no Flegetonte a máscara cai e é o retrato do Malebolge em fá menor melou-se no chicote do próprio corpo as encruzilhadas dos sinos um padre em desatino melhor verniz do cinismo a luz que se deita no abismo incendeia reminiscências Lafon o Amor as bençãos da indiferença despetalaram o Brilho, a Flor há Dor sub traída presença o ódio de um reles martelo do mal na superfície destilou desprezo despetalando o Brilho agora roce em vida nas ondas do Rio Estige a máscara cai e é o seu retrato que assim seja

a cidade do espanto

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poema de Alex Ratts [imagem: Lalo de Almeida] a cidade do espanto a cidade do meu retorno cidade que me espanta feita por minhas avós e meus avôs minhas mães e meus pais cidade de uma dívida casa demolida favela removida ocupações renitentes a parte que fizemos está guardada ônibus nervosos carros raivosos motocicletas sensuais bicicletas de trabalho e de passeio cidade de canções percutidas  movidas a violões ou sanfonas tocadas em alto volume nos fones, nas rodas, nas caixas nas ruas e nas estações quem eu quero os homens pretos os homens pardos que são todos negros de preta e indígena ascendência alguns eu guardo nos olhos outros eu escondo o nome e o querer um ou outro eu levo para a intimidade cidade de mulheres pretas e índias das travestis e mulheres trans cidade de "boys" e bichas a parte que faremos não está garantida cidade da pegação e da transa nas ruas, nos bares,  nas boates, nos motéis cidade da transg

contagem

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poema de norma de souza lopes contagem a janela da cozinha peneirava o sol da manhã ela trazia restos de sono no rosto as malas pareadas como cães ao lado do sofá na sala lá no quarto ele dormia ainda  o choro da noite toda jogou no lixo o filtro de papel cheio de pó coado o de número 1276 o caso anterior fora menos exatos 927 filtros tão doído este sentimento de faca amolada pronta pra cortar o amor assim sempre contado nos filtros de café coado

em nome do pai

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poema de Jorge Augusto Em nome do pai esse peso todo no meu ombro esse corpo escombro que carrego  sem consolo o cisco que não sai do olho os pés arrastando essa tonelada de pedras de pedradas murro em ponta-de-faca cristo na cruz não serviu pra nada pago minha conta meu próprio sacrifício é estar vivo como  uma planta um bicho.

guilhotina

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poema de Guellwaar Adún não há guilhotina que comporte e o terror aqui só cresce então,  mande um código morse talvez um simples fatal block não há guilhotina que comporte mas outros servem como pet vertigens que se querem vórtice

manchete

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poema de Eduardo Sinkevisque manchete o presidente desabado foi hostilizado ao visitar o prédio desabado o presidente descaído foi hostilizado ao visitar o prédio desabado o presidente criminoso  foi hostilizado ao visitar o prédio desabado o presidente ilegítimo foi legitimado entre prédios desabados