Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2018

a máquina da morte

Imagem
poema de André Capilé a máquina da morte nos chegava coturna como a besta trincadentes (bandeiras vão voar — um viva às bruxas — feitiço rubro na língua das ruas nos vimos horizonte olhos nos olhos e o abraço que nos demos fortaleza foi grão de resistir mas não por medo)

carta aos amigos

Imagem
poema de Vanderley Mendonça CARTA AOS AMIGOS estamos sós, camaradas. já perdermos mesmo se, por milagre, ganharmos  perdemos para os nossos e não para o ódio da passeata da Paulista.  a hora da crítica não era agora  (certo, Mano?) não era a hora, não é dahora no palanque já não ajuda abraçaços agora,  "leãozinho" depois de chamar quem por ti lutou de analfabeto ignorante o monstro mostrou a fauce a verdadeira face dormida talvez não haja outra saída (não leram o poeta? ele avisou mais de uma vez em 2013 e em 2016 um partido não é um escritório digo a vocês: e neste país só há um partido que não é um escritório tem nele milhares de pés descalços milhares de mãos calejadas que lutam e lutarão por vocês mãos e pés que morrem e nunca escrevem canções que germinam a terra com sangue  mirem-se nos exemplos da poesia no front (apollinaire, ungaretti, hemingway) vocês já viram alguém morrer na sua frente?  não pela violência das mortes

AONDE VAMOS NESTA NOITE ESCURA?

Imagem
poema de Leonardo Antunes AONDE VAMOS NESTA NOITE ESCURA? Guiados sob a luz das viaturas, com o peito insuflado em grito horrendo, aonde vamos nesta noite escura? Por todo lado assomam sepulturas enquanto nós seguimos, num crescendo, guiados sob a luz das viaturas. Unidos não no amor, mas na tortura, já não sei o que somos nem entendo aonde vamos nesta noite escura. Confiantes de ter real cultura, espezinhamos leis e referendos, guiados sob a luz das viaturas. Quando foi que trocamos a ternura, o amor e a compaixão por dividendos? Aonde vamos nesta noite escura? Impõe-se nova, exótica escritura: não se pergunte, nem aos reverendos guiados sob a luz das viaturas, aonde vamos nesta noite escura.

amanhã

Imagem
poema de Victor Gonçalves Wall Street , por Paul Strand Amanhã ainda que sob nevóas profundas vamos amanhã atrás de um albergue o passo apertado incerto e recoberto das mais tristes decisões e o passado na ponta da língua maldizendo: será preciso no instante já do gesto interromper a clave e no entanto é a paralisia o abandono de Minerva por nos sabermos pecadores e no entanto é saber que já olhamos muito antes do gesto e de Orfeu para nossa ruína e amanhã continua isso que se anunciará amanhã iniciou e devidamente rascantes nos faremos curvos e com a digital nos renderemos