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Mostrando postagens de maio, 2020

RESPOSTA A UMA RAINHA

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poema de Eliane Marques RESPOSTA A UMA RAINHA Passemos à contra- ordem ao desenterro de todos os mortos cada qual com sua pá e obituário   às costas como se uma capa dessas longas, que varrem a poeira dos calcanhares   Vamos ao desenterro dos mortos da covid dos mortos da ditadura, das escravidões dos assassinados pelas balas do estado E quando os desenterrarmos retomaremos os corpos que nos foram confiscados Aqui o mapa, vês? Mas entenda que é desnecessário as valas comuns os buracos os cemitérios estão à flor-da-pele Vamos na procissão dos mortos sem bispos pastores ou padres vamos negros como se um luto permanente nos acompanhasse    vamos sem coroas de rainhas ou tiaras nossas flores serão os nomes dos que tombaram Carreguemos agora mesmo toda essa gente às costas sintamos esse peso, o peso da morte sob os sapatos E para quem gosta das frases de efeito a contar de hoje “Todos somos um só m

As Dezessete Prováveis Mortes de Sergio Moro

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poema de Demétrio Panarotto [com contribuições de Roberto Panarotto e Artur  Vargas Giorgi] As Dezessete Prováveis Mortes de Sergio Moro                                                                                                    1. Afogado numa banheira em Princeton. 2. Caído num poço de elevador em Harvard. 3. Eletrocutado com cafeteira em Cambridge. 4. Intoxicado em jantar romântico com a esposa. 5. Alvejado por uma camareira em um hotel de Las Vegas. 6. Engasgado. 7. Desfigurado pelos marrecos em uma fazendo em Maringá. 8. Iludido com a vida, enquanto discutia com o espelho a nova condenação de Lula. 9. Empalado, num sonho em que a lava jato teve um áudio vazado para Globo e interceptado pelo Intercept. 10. Golpeado arbitrariamente em uma partida de futebol com os amigos. 11. Abduzido após confundir evidências com uma música de uma dupla sertaneja. 12. Na saída da fonoaudióloga 13.

e daí?

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poema de Alvaro Santi E daí? “E daí?” – Disse o tirano infeliz que as circunstâncias conduziram ao comando de um povo cheio de esperança. “E daí?” – Repetiu ele às câmeras, sorridente, quando, na floresta, o incêndio tornava-se corriqueiro. “E daí? Morreram poucos.” - Opinava – “No Brasil, faltou matar tantos outros. Pelo menos, trinta mil.” “E daí se com os radares que eu mandei desativar vão morrer alguns milhares a mais?” - Nem vou comentar. “E daí?” – Se alguém achava que era suspeito ou estranho ter amigos milicianos, era a resposta que dava. “E daí se eu vou pra rua e pego uma gripezinha? Eu cuido da minha família, cada um cuide da sua.” “E daí se aquele avião que me levou pra Miami numa nefasta excursão trouxe do vírus um enxame?” “E daí?” – Dizia ele, quando alguém lhe perguntava dos milhares de doentes e corpos que se empilhavam. “E daí?” – Só repetia, sem sombra de algum respei

DICIONÁRIO quase íntimo DE UMA MULHER NEGRA

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poema de Eliane Marques DICIONÁRIO quase íntimo DE UMA MULHER NEGRA S e falar alto, barraqueira ( tinha que ser negra ) se baixo, a fakenews da patroa branca ( uma negra “cheia”) S e de sua boca o inusual (para o esperado) como bangladesch bengala bergamota freud ou byron certamente, o intento de comprar passagem às salas estranhas com uma segurança que lhe manca e elelas – black or white cis ou trans homo ou éter – o sabem bem têm aquela bolinha de cristal importada da costa do ouro ou de juju, como o senhorio de adah de o fundo do poço S e bem pronunciar o dicionário de prosódia para uma mulher negra como banto bando bantus tão batuque mam you bosta não aprendeu nada de bom durante os anos de sacrifícios do“pai” (?) ou do estado com a sua escola paga S e estiver mais ou menos “bem vestida” salvo se a Chimamanda estará bancando a sociedade de consumo e novamente querendo o ingresso fácil nos palácios brancos ou seja, querendo