alvorada roubada
poema de Fausto Antonio
Ladrão da
Alvorada
O
conspirador agia de dia
como agem os
brancos togados.
A negradra
apenas ouvia, atrás da porta,
a lengalenga
sibilante dos guizos.
Não é ladrão
de cavalos?
Não! Se bem
que rouba menina.
A despeito
de ser carola,
há uma que o
alimenta,
pois o
conspirador tem,
tirando
quinze, três vezes trinta.
O
conspirador age de dia.
A polícia
segue alerta nas favelas;
o execrável,
atrás da porta, da cortina,
de cócoras
lambendo botas,
gengiva
fria; como a morte, espreita,
mente e chama às claras,
pois também
são brancos,
os togados
sem vergonha!
De canalhice
em canalhice,
o povo
atônito, com o patife
sempre atrás
da porta,
a
conspiração tomou a Alvorada,
que era a metáfora do novo dia.
Negrada,
com a
mentira dobrada,
a língua no
rabo enfiada,
o
conspirador, ladrão de votos e sonhos,
assaltou nossa
Alvorada.
[Fausto
Antonio é escritor da série Cadernos Negros e professor da UNILAB – Bahia]

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