Postagens

Mostrando postagens de março, 2018

denegrir

Imagem
poema de Eduardo Sinkevisque renegar denegrir encontre preconceito o negro em si renegar denegrir entenda-se racista em si per si pra si renegar denegrir retire-se disso aí retire isso aí 

a dívida capitalista

Imagem
poema de Sidnei Borges TÍTULOS DA DÍVIDA  CAPITALISTA  AFRODESCENDENTE                                                          Títulos da dívida Afrodescendentes credores Mercado de câmbio Operações off-shore Capital negro Afroempreendedorismo Resoluções CPM-Bio Juros hard-core Medida e valor Compensações Reparações Humor Lucro holandês Navio mercante Corpo preto apólice Valor mecadoria Manhattan, Amsterdan Sangue africano tinta Pinturas Dinheiro Branco caloteiro Moinho O mandinga Objeto, produto, bem-de-consumo Tráfico, contrabando Resumo da ópera Cavalaria, cheques Letra de câmbio Fundo de investimento, superávit, insumo Ouro negro que carne Preto petróleo Cotação, índice Nigéria: meta, margem Bitcoin mercantilista Alma barroca Carbono de ossos Créditos respiráveis Luxo burguês Lixo industrial Tu és! Execução fiscal Protesto Título cambial perene Vantagem comparativa Baixo risco Baixo custo Resto Ergue-te Fatura D

a dor da bala

Imagem
poema de Marleide Lins Das travessias atlânticas: sangue, suor, saudade e sal. Tua herança, esse canto q não cala teu clamor, esse axé ancestral. O branco q escondeu a propria alma ainda escraviza, macula e mata. E fere bem menos, a dor da bala q a barbárie secular q nos abala. E contra essa força bruta seja nosso luto, verbo e tua viva voz, luta.

inimigo ilegal

Imagem
poema de Ricardo Pedrosa Alves COMBATENTE INIMIGO ILEGAL Desde que a Terra é plana eu não saio mais de casa tenho medo de cair onde ela termina e de ser abatido clandestino numa esquina

mar de ossos

Imagem
poema de David Alves as flores não morrem           (para Marielle, Cláudia e todas as Silvas) em um carro de passeio o tiro é certeiro quando se tem o alvo atravessa o pólen o beija-flor caminha alagado em seu pranto afogadas arrastadas por esse mar de ossos o alvo é a antítese e as flores estão vivas.

robert

Imagem
poema de Cândido Rolim ROBERT Robert Justus é o único brasileiro que possui todos os dentes RJ é um homem de falanges inoxidáveis e dá de presente ao filho uma praia com ostras domesticadas RJ acorda cedo para polir o porcelanato de suas sacadas RJ, como as conhecidas madames, também coleciona  coisas típicas RJ enxerga o futuro financeiro desde uma  cadeira de cedrella fissilis de onde também recita Chopin Robert Justus costuma assistir à bênção urbi et orbis  ladeado por quinze assistentes loiríssimas Robert Justus e seus dentes de leite maciço

joke

Imagem
poema de Zureta el Asceta piada pronta aprenda com os melhores fascistas do brasil finanças, investimento e banking e lava a jato e regalia-moradia * joke ready learn from the best fascists of brazil finance, investment and banking and washes by jet and housing rights

joão josé reginaldo

Imagem
poema de Eliane Marques João José Reginaldo Lá, onde o correio não entrega cartas e muito menos foi pasárgada os patrulheiros da brigada mandam seus recados à bala (com perfume de rosas) melhor ainda se for num sábado, diante de alguma casa caiada em que se dessangra a mesa e os armários   Lá, desde o cocoricó dos galos, se aprende o oficio de içar dos valões os mortos Como se fossem peixes cuja carne serviu de alimento aos porcos Estamos na terceira segunda-feira de março Março será o mais cruel dos meses até a chegada do próximo As bocas de fumo fechadas. As bocas das gentes costuradas E dois corpos achados em uma zona rala de mata  Agora há pouco, alguns foram novamente içados Tiveram a audácia de andar por aí como João José Reginaldo João 23 anos Com um tiro no braço esquerdo e outro nas costas Socorrido num carrinho, desses em que se carrega o cimento e a enxada Dizem que morte colateral Mas morte pública e anunciada Jos

aglomeração

Imagem
poema   Jean Narciso Bispo Moura      aglomeração À Marielle Franco de que lado – f – vc se encontra na  timeline dessa novíssima história? fortes estampidos e gás lacrimogêneo não aturdem os olhos e ouvidos do que velam o esquife da justiça os proprietários&sócios@cialtda lê-se os imagecidas aglomeram com um estalo os seus soldadinhos de plástico (…) já derrubaram uma presidente agora municiam os seus ideais & revolveres querendo a segunda morte de uma mulher de uma sociedade

1968-2018

Imagem
poema de Matheus Pazos RIO: 1968-2018 “Não choro / Meu segredo é que sou rapaz esforçado” (Macalé; Salomão) não poderei celebrar meus tantos anos de excesso e culpa a cada esquina habita um animal que atira contra os meus morta a atmosfera, sobra o gosto amargo na saliva - não é sobre bílis que escrevo – escrevo por não poder mais gritar cuspe e dentes não vencem armas ornadas em burrice olho para o céu e não vejo nada olho para o chão e vejo meus pés cansados pelo andar em círculos se fosse velho, mudaria o rumo fincado no meu próprio esquecimento como não celebro longevidade assisto a memória transmutada no presente meu gosto inútil da revolta.

marielle da maré

Imagem
poema de Maria Alice Bragança NOVE TIROS Nove tiros. Foram nove. Na mira, Marielle. O alvo, um povo inteiro. Nove tiros. Quatro na cabeça. Calaram Marielle. Tomou sua voz um povo inteiro. O rosto de Marielle. Marielle, de corpo presente, nas ruas do Brasil inteiro. Marielle da Maré. Marielle negra. Marielle, uma luta. Marielle, uma voz. Quatro tiros não matam um sonho.

meu culto

Imagem
poema de Cristiane Sobral Por ela, por elas, por nós. Em luto, em luta! Não tenho tempo de esmorecer no campo de batalha Nos dias de luto seguirei lutando Cantarei um canto doído, profundo Levando ao meu útero o húmus dos meus ancestrais Com a certeza daqueles que um dia voltarão Rasgando o ventre desta grande mãe Nos dias pardacentos onde tudo enguiça A humanidade afunda como areia movediça Mais que um minuto de silêncio Um minuto de desordem É preciso subverter a ordem Um minuto a exterminar nosso suplício É preciso que os machos acordem E sejam punidos Nos dias de luto Eu luto Ubuntu Esse é o meu culto.

Novena contra chumbo

Imagem
poema de Cristiano Moreira Novena contra chumbo Uma novena traz a escuridão noves fora: na mordaça o chumbo nas vozes do país desolação rima com o levante, com o lodo e com todos os lobos dentro de casa importa o levante na voz, na estrada ainda que tentem impedir, ainda que rouca o eco dos nove tiros não pode calar a boca importa seguir. o poema ainda é à prova de balas.

ao sol do feminicídio

Imagem
poema de Eduardo Sinkevisque toda e qualquer frivolidade estala rachada ao sol hoje, tempo de intervenção militar, de milícias, de violências e de outras maldades. não é Maniqueu a dar o ar da graça, nem o da desgraça. é uma tragédia a cair sobre todos nós. toda e qualquer frivolidade racha hoje (e tudo racha hoje) ao sol do feminicídio, ao sol da execução de Marielle Franco, dos assassinatos em massa de jovens negros, de jovens pobres. não são jabuticabas. não é a redução do desgaste. são as trapaças do tempo, as tramoias do Planalto. são Pietás arrasadas. sol a arder, castigando a tarde.

o horror horror

Imagem
poema de Alberto Lins Caldas o horror horror horror ● pensei em fugir ● ● sonhei nos sonhos fugindo ● ● longe longe demais dessa ilha ● ● q me arranca a pele toda manhã ● ● esmaga os ossos toda tarde ● ● pedaços de carne antes de ir dormir ● ● quando nos sonhos se repetem os dias ● ● a espera da lingua arrancada ● ● olhos perfurados com agulhas em brasa ● ● inda nos sonhos ate o fim do corpo ● ● quando o desejo se curva e se quebra ● ● quando as palavras as mesmas as mesmas ● ● não cessam noite dia na cama nos sonhos ● ● quando o desejo se curva e se quebra ● ● abrir os olhos nessa velha manhã ● ● abrir a janela pra ver a chuva de fuligem ● ● tocar as cinzas na barra da janela ● ● cinzas de todas as noites todas as horas ● ● não conseguir gritar e engolir ratos ● ● ratos apavorados por gatos mortos ● ● quando nos sonhos se repetem os dias ● ● morrer morrer morrer ● ● isso é facil isso é teatro são so palavras ● ● so

remadora da maré

Imagem
poema de Eliane Marques REMADORA DA MARÉ Estamos cheias de balas de fuzis na cabeça no pescoço Com balaços extraviados e achados nos ossos nas costas Estamos no Estácio Mas não morrendo de amor A partir de ontem Se alguém me quiser matar de amor que erga a voz do meu lado Vivo dos estilhaços da palavra ódio E grito cada vez mais alto Não, não mandem que eu fale baixo E nem que eu seja branda como um branco diplomata Estou com todos os dedos cortados Entendam Carrego dos cabelos das minhas antepassadas esse dorido ódio O meu ódio é mais antigo que os astros Ele vem dos porões onde os sequestrados Então, não mandem que eu fale baixo Nem me perguntem se estou braba Sou mais uma remadora da maré e esse o meu retrato Cuidado. Não se faça de desavisada Nem dance entre os destroços Eles vêm rápido E tropeçam com nosso hábito de não fazer nada Vêm rápido E ordenam os silêncios à nossa volta Vêm rápido com

ontem

Imagem
poema de Demétrio Panarotto Ontem (pra ser berrado)                                                                                             hoje não corpo calma hoje não mais corpo carma trama e se contorce hoje corpo não mais alma não arma ou precisa pegar na no corpo hoje sempre não sempre não o corpo ali exposto pois é preciso se expor e gritar grito gritem gritamos todos hoje não as vozes todas juntas expostas hoje não quanto mais vozes hoje não maior a sensação de indignação que nos toma e nos consome diante dos corpos hoje não que caem que tombam inocentes e impunes a paralisia mental daqueles que defendem e celebram a morte hoje não por favor hoje não e parem com a vergonha que consome essa porra de país hoje não a vida é mais que o gosto amargo da bílis quando explode sem reticências no canto da boca não hoje não não e não nove tiros não três tiros na cabeça não hoje ontem e amanhã não.

marielle franco e outras

Imagem
poema de Wir Caetano (para marielle franco e outr@s) um sol explícito se escancara às 13h aqui em cima embaixo o corpo imenso retesa músculos nesse instintivo movimento inútil de defesa buracos e buracos ao sol depois dos granizos das pistolas ponto 40 graus à sombra

velhas todas as notícias

Imagem
poema de Leila Guenther Venho repetindo com a consciência do fracasso os passos de sempre à procura de mim à procura de um chão para chamar de país desde a primeira luz da manhã  que me faz ver o que não quero até a escuridão da noite  em quem me prometem o esquecimento do que vi Há quem lute em meu lugar Há quem morra no lugar de todos Há quem nos mate todos os dias Hoje “Ficaram velhas todas as notícias.”

autoria

Imagem
poema de Tennyson Albuquerque AUTORIA Foi a bala da polícia A mentira do jornal Foi a vara do juiz. O dedo do promotor Foi a nossa má autoestima A covardia de ser. Foi o funcionário público Que acha a privada bom Foi o capitão do mato. Foi o artista cortesão Foi também o madeireiro Plantador de soja, foi. Foi o cão que afaga o dono Que o açoita, e por ração. Foi a farda, o fardo, foi. Foi o norte americano O churrasqueiro, o gurmê A marmita de cem contos. Foi a fome, a esganadura Quem nos trouxe a ditadura, Mais comemos, mais vazio. Foi a sanha do consumo Foi o aparelho no dente Foi o frango, o automóvel Foi o show com holofotes Foi o manequim, na loja E aquela roupa tão feia Foi o creme branqueador A cura da viadagem O caco de telha esfola Mas não nos lava a miséria. Foi juiz, foi deputado, Foi o PM e sua farda Suja de sangue, covarde, Foi quem matou Marielle.

a despeito de

Imagem
poema de Adriane Garcia A despeito de Mesmo não havendo esperanças Agiremos como se houvesse Jamais a adesão total Ao mal, ao funesto, ao terror Liberdade continuará pronunciada Sobre ou sob as mordaças Daremos trabalho, sempre Como hidras de duas cabeças Decepem-nos duas, nasceremos quatro Temos o treino, a expertise, a inteligência Dos secularmente derrotados.