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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

desconjugações

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poema de Aldo Votto desconjugações informo informas eles, infames digo dizes eles, ditadores milito militas eles, militares torço torces eles, torturadores mendigo mendigas eles, mentirosos golfo golfas eles, golpistas ladro ladras eles, ladrões bandeio bandeias eles, bandidos trabalho trabalhas eles, trapaceiros hipoteco hipotecas eles, hipócritas trago trazes eles, traidores raciocino raciocinas eles, racistas homogeneízo homogeneízas eles, homofóbicos fascino fascinas eles, fascistas

punhado de ossos

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poema de Jean Narciso Bispo Moura punhado de ossos estou parado diante do guarda-roupa das artes, letras e ciências a respiração se faz mecânica um punhado de ossos em sua casa grande indaga a si mesmo e zomba da possibilidade da cútis preta engendrar gênios fora do perímetro do carnaval, futebol e samba

PALAVRAS DE ORDEM

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poema de Ricardo Silvestrin PALAVRAS DE ORDEM Estou aqui pra falar sobre o tempo que ganhei de presente. A mim foi dada a largada em sessenta e três, século vinte. Se girar o globo, coisa que ninguém mais faz, ou botar no google, vai achar Porto Alegre, rua Botafogo. João Goulart, o presidente, logo, logo foi deposto pelos tanques e yankees. Só restou a nós marchar no país que vai pra frente. Sem saber de nada, cantava o hino, hasteava a bandeira, e vivia a vida de um menino. O governo dos generais, quando não se aguentava mais, iniciou a abertura pra acabar com a ditadura. O povo unido jamais será vencido, é o que se gritava. Muitos anos se passaram, e a mesma tropa, só que agora com outra roupa, dá um golpe civil e já chama na garupa o militar. Os Estados, Unidos, jamais serão vencidos?

no Brasil da ditadura Temer

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poema de Eduardo Sinkevisque no Brasil da ditadura Temer no Brasil da ditadura Temer a violação de direitos individuais segue sem obstáculos. a intervenção militar no RJ mata o indivíduo. e as mortes se acumulam simbólicas e empíricas. elas não são selfies. elas não são sílfides. elas são a sífilis quinhentista. suposta civilização da ordem do falo que nos fode. a morte do indivíduo é o pau vermelho, a brasa de seu nome. e o Estado de exceção na mochila dos meninos de chinelos. 

insumos não brancos para a poesia contemporânea

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do editor insumos não brancos para a poesia contemporânea o tema do debate eleitoral já é a segurança, em outras palavras, a repressão, o chicote. ao dissertarem sobre o tema, candidatos à direita e à esquerda seguirão obedientes a máxima machadiana segundo a qual o melhor modo de segurar o chicote é pelo cabo. zoos humanos. vacinação obrigatória contra a varíola em 1904: varrer a pobreza para longe. a república abate canudos. a intervenção: fichamento dos moradores de favelas. para sair de casa tem que se deixar fotografar junto com o rg. por um lado a nobreza de exportação do samba que é do morro; por outro, o fetiche da farda, último refúgio da ordem positivista. – alô, o brasil, por favor.  – o brasil não se encontra. quem deseja? "a intervenção é administrativa e não militar". o general interventor começa a montar sua equipe indicando dois outros generais. com esse gesto dá a entender que, é isso mesmo, esses c

uma fotografia de Mendonça Filho

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poema de Eduardo Sinkevisque poema tirado de uma fotografia de Mendonça Filho a feição do parvo se compõe de um olhar inábil do tipo que não se fixa bem em nada. junto a isso lábios semi-abertos com um devir de baba. a feição do parvo atesta em sua testa enrugada seu não saber de nada.

povo x investidores

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poema de Fábio Brüggmann POVO X INVESTIDORES para quem acha que o conceito de "luta de classes" é ultrapassado, vamos pensar em outros dois conceitos: o de povo e o de investidor, ou, como cunhou marx, o de proletariado e o de burguesia. poderia até esmiuçar aqui os dois conceitos, mas penso que estou falando com pessoas politicamente esclarecidas. o investidor é aquele, como consta nas manchetes de hoje, que suplica para que henrique meirelles seja candidato. o povo, pelo menos a maioria, como apontam todas as pesquisas, quer que lula seja candidato. agora você escolhe se você é povo ou se você é investidor.

iminência

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poema de Paulo de Toledo IMINÊNCIA inúmeros energúmenos (de toga, de terno, de farda, de faixa) inumados (e eu, não é pra menos, deveras animado)

filha da miséria

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poema de Maya Falks Filha da miséria Eram quatro quartos montados com o improviso da miséria Separados por panos em farrapos de onde era possível ouvir  O grito agoniante daqueles estômagos vazios Eram quatro espaços diminutos onde a mãe contava histórias Eram frestas nas paredes de retalhos que ao frio provocavam arrepios Pés descalços, em feridas das pedras pontiagudas da vila Pelo leite e pelo pão, as mulheres murchas envelhecidas faziam fila Era pouco, quase nada, em lágrimas densas saía a mãe da mesa Engolia o luto da vida perdida, do filho consumido de fome e pobreza Havia o pó que subia sem dó quando passavam os carros dos poderosos Era caminho das belas mansões que ao longe faziam silhueta Nos vales com montanhas verdes e picos rochosos Enquanto do lado de cá criança faminta marcava a sarjeta Já nem cantava aos filhos canções de ninar O sono só vinha quando o corpo faminto desabava de tanto chorar Não quis o destino dar-lhe esper

à vitória que tivemos

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poema de Leonardo Antunes Epinício fúnebre à vitória que tivemos I De áurea lira não careço, Musa: a violinha Já constrange como um luxo além do permissível. Não é fás dourarem-se estas notas se outras notas Permanecem intocadas pelas pautas, mudas. A vitória que hoje canto não se sabe ao certo Qual o fim que irá trazer aos filhos brasileiros, Pois meu canto triste de vitória se acompanha Por um cântico odioso, alheio e medievo. Mesmo assim é lícito louvar a presidenta, Cujo título contrário à norma se valida Como manifesto da necessidade urgente De se confrontar a norma quando a norma frustra Que sejamos algo que já somos desde sempre. II Norma, deusa, não se faz apenas legislando. Norma compreende tudo que os costumes ditam. Norma, desde tempos ancestrais, já se sabia Ser esposa do poder, de Zeus, de quem és filha. Norma diz que pobre é vagabundo, negro é feio, Nordestino é sujo, gay é sempre libertino. Norma exclama que mulher é burra, quer din

porto alegre é o cansaço de si

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poema de Marcelo Martins Silva Porto Alegre é repleta de lugares sem lua, é uma cela, concreto de estátuas positivistas; Porto Alegre é o desterro às margens do Rio Guaíba, por essência morada do desassossego; Porto Alegre é um gueto da África do Sul durante o Apartheid; Porto Alegre é silêncio, pretensiosa em suas aspirações burguesas é pobre e os pobres a carregam nas costas; Porto Alegre é o cansaço de si, o cansaço de tudo, é uma avenida lotada de carros, um cafundó com luzes; Porto Alegre, escute os tambores e esqueça: Você nunca foi Europa, nunca foi portenha – o Bom Fim nunca foi Berlim, nunca teve rock britânico; Esqueça essa bobagem toda, inclusive tire a bombacha E vá pra rua brincar com os outros.

dois ovos (comunicado)

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poema de  Demétrio Panarotto Dois ovos (comunicado)                                                                                         Viemos por meio desta comunicar que, a partir da data corrente, os poetas-galinha terão que colocar dois ovos por dia. É a crise. Quem não conhece o dia a dia dos poetas-galinha pode até pensar que esse comunicado seja arbitrário; tranquilizem-se, eles vêm sendo treinados metodicamente nos últimos anos. É o método. É o sistema. É a literatura. Sinalizamos, ainda, que, para atestar a boa procedência do produto, os ovos devem todos eles ser do mesmo tamanho, ter a mesma cor da casca (fina, mas sem estar trincada) e não podem ter resíduos ou cheiro de cu. Lindo, né? Para aumentar a produção e manter a excelência, foram necessários alguns ajustes práticos: 1)      a partir de agora, ao menos dentro dos galinheiros, todos os dias terão duas noites para que os poetas-galinhas durmam e acordem mais de uma vez e se sinta

vida adulta

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poema de Matheus Pazos vida adulta IPTU, IPVA, FGTS cardume incontornável no mar de siglas e cifras ante utopias trajo um sorriso verdadeiramente postiço na certeza distante pressinto o peso real das palavras a ordenar em silêncio tudo que resta à merda.

intervenção federal

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poema de Eliane Marques intervenção federal Não saia à noite Fique em casa duro como estátua Embora isso não lhe garanta nada A casa poderá e será e continuará violada Cuidado, todos os suspeitos somos pretos (como sempre) Não há wakanda que nos tutele Estamos todos abandonados como Killmonger Não ande sem a carteira de identidade Não ande sem o cartão do cpf Não ande sem a carteira de trabalho Não ande sem a certidão de nascimento Não ande com produtos de limpeza Não compre pinho sol nem de brincadeira Não Não ande Talvez o seu próximo assassinado seja evitado Com uma certidão de nascido morto Por isso não fale não balbucie Cale a boca do cachorro Em caso de smartphones ou câmeras fotográficas Carregue a nota fiscal e as suas instruções de uso Carregue cenas de você os recebendo na loja Dizem que o que os olhos não                o coração não sente Não carregue guarda-chuvas longos (nem de noite e nem de

faixa

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poema de Ricardo Silvestrin FAIXA A correção, mesmo errada, foi em certo ponto acertada: o vampiro, é evidente, não tem faixa de presidente. Tentou defender sua imagem, mas, que bobagem, sem faixa, sem corpo, sem brilho, ele nem aparece no espelho. Daqui a milênios, a vagar a triste alma penada, será lembrado como o personagem de um antigo carnaval e mais nada.