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Mostrando postagens de abril, 2018

a ideia

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do editor a ideia de chinelo de dedos de calção anos setenta o severo relógio em contraste com a sem-cerimônia do jeitão o bigode aplicado à ideia a camiseta de algodão das mais baratas com a serigrafia da entidade sobre o estrado ao pé da mesa um copinho de café sujo de café frio a naturalidade com que a ideia segura o microfone como se o desdenhasse como se fosse um cigarro que é aceso para ser descartado a ideia está ali

em ina

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do editor [em ina] . a naftalina da direita histérica . a niilina dos isentões de mocassim . a temerina experiência dos nossos dias . a cretinina do filósofo dos milicos . a propina do malapropismo twitteiro . a bovina senadora do pp . a ruína da democracia representativa . a carnificina de líderes dos movimentos sociais . a purpurina dos juízes do supremo . a marina que não fede não cheira não fode . a creolina no piso de cimento do iml . a cajuína que comparece por casuísmo . a repentina politização do povo verde-amarelo . a infantilina dos fanáticos de meia idade pelo verde-oliva . a curvilínea direção tomada por rosa weber . a saturnina sutura na ferida que não sara nunca . a interventina na veia do povo negro da favela . a catarina nazifascista . a sulina nazigaudéria . a severina senhoridão em relação ao servo . a serpentina morte matada

triplex

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poema de Luiz Coelho triplex brilha lá um Pinho Sol cheira mal pois pesa mais que 450 no helicóptero

como se cuidasse do lula

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poema de Eduardo Sinkevisque cuido do cão como se cuidasse do Lula como se cuidasse de você como se cuidasse de mim. o cão tem a suprarrenal alterada, alguma artrite e artrose. Lula um pedido de HC negado e a iminência de ser preso. você e eu o que temos? tememos novos-velhos-outros anos de chumbo pela frente. amigos presos, amigos fugindo assim pra nunca mais. 

poema do desterro

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poema de Cidinha da Silva Poema do desterro Os dias de abril vão acabando com a gente 17 em 2016 04 em 2018 E outro ainda virá neste mesmo ano Para lembrar o abaixo de tudo a que nos relegam. Para que gargalhem as hienas, abutres   e vermes Não aguento mais o dia seguinte Não tenho mais coração Arrancaram-no com o Power-point   da desfaçatez As balas do ódio O   jejum manipulador de mentes A colheita das provas necessárias à condenação política Os twittes dos milicos ameaçadores em cadeia nacional Não me peçam um coração para refazer o mundo Só tenho flecha Machado Alforje e cabaça Chamem os Orixás  à Terra À guerra e seus infindáveis começos

Mãe da Nação

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poema de Eliane Marques WINNIE – Mãe da Nação Esses teus punhos de 1936 viram As remoções forçadas dos corpos As lojas e os hospitais trancados a prego As escolas de segunda classe As armas brancas   Os tiros no meio da cara As peles furadas nas cercas de arame farpado Esses teus punhos de 1936 viram O desterro para Brandford A retenção em Soweto O banimento para Orange Esses teus punhos clandestinos viram O medo nos dedos de Zindzi e de Zenani E as farsas dos julgamentos por alta traição Mas esses teus punhos Pularam os bantustões e rasgaram os passes E viram o enterro de todos os chacinados por perturbação da branca ordem E viram a parede branca onde mijavam os soldados na prisão de Robben Island Teus punhos, Winnie, a seta envenenada contra os claros chifres do estado Punhos que reverberaram os pedaços de pão seco sob o duro das grades Winnie, o teu luto no seio trespassado guarda o grito das bocas desdentadas

banzo

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poema de Duan Kissonde BANZO N° 1 Por detrás deste meu sorriso Existe um banzo escondido Que se oculta por dentro desta minha carne retinta De que profundezas e de que lugares ele vem? Sopro ancestral, imemorial calunga? Vem das entranhas da terra, das vísceras, dos músculos e dos ossos dos meus antepassados Pois saibam senhores, que este meu riso, risível Escuda uma dor horrível que nunca foi e nem será somente minha

poema uma pessoa coletiva

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poema de Marcelo Martins Silva O poema é uma pessoa coletiva No domingo pela manhã nasceu um poeta magrinho e de olhos vagos E também outro poeta na esquina, sentado no chão Um catador de versos, pescador de sentimentos rejeitados Vermes astrais nasciam quando ele falava. O outro, poeta magrinho Vivia enredado na métrica da classe média Seus olhos eram vagos de insônia Causada pelas polêmicas na internet O outro era torto e nem se sabia poeta Apenas empurrava seu carrinho Arrastando a vida debaixo dos pés descobertos Sua voz era o concreto Estranha mania de resistir ou de não ter onde cair morto Sobre o asfalto largo da cidade, um dia se encontraram Um a olhar vago, o outro a correr frenético O vago desceu de seus pensamentos, ancorou-se na pedra E a velocidade e a violência lhe atravessaram O pescador não lhe reconheceu Mas mesmo assim ofereceu uns versos Para que pudessem mastigar poesia Pois era disso que vi

nem vivaldi nem deus

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poema de Jorge Rein NEM VIVALDI NEM DEUS os mártires do outono se misturam à terra sofrem da mesma cor e a multidão não sabe se pisa em folhas secas ou nas mãos dos heróis o som é parecido e é similar a dor talvez eles renasçam tão logo a primavera talvez não nas atuais circunstâncias já não há mais quem garanta o ciclo natural das estações nem vivaldi nem deus

deus me arruda

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poema de Telma Scherer Pus arruda até no chimarrão, e vocês não saíram da minha cabeça. Pus os pés no pensamento para dizer tudo o que imbecilizam. E não escrevi nada. “No que você está pensando?” O gesto meio rock sem saudade dos anos noventa quando éramos todos lula lá e fora fmi e de mim ninguém dizia que era aquela, aquela que foi presa, na feira, aquela clara, meio gorda, meio magra, ah, sim, a loka da serigrafia, uma que faz filosofia, a que tem uns cabelos assim assim e nunca vem com a gente? Que nada, ela estava ali na frente, mesmo agora, sem saber no que estávamos pensando. Passeavam passeatas para todos os lados, bombas, frutos e socos revolutos mas apenas em muitas linhas e eu dizia comigo mesma: “Deus-me-arruda, não-me-arruda” “Deus-me-arruda, não-me-arruda” porque pode ficar pior, e essas linhas não são de ônibus, não andam a pé, não sobem morro, são só vozes que às vezes pedem pouco mais de mui