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Mostrando postagens de agosto, 2018

a academia esqueceu de deitar

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poema de Guellwaar Adún a academia esqueceu de deitar                     (para Conceição Evaristo) imortalizando princípios  da klan verdugo-amarela trinta e quatro  num chá dos cínicos crônicos pequenos fazendo caca na entrada fazendo caca na janela  esqueceram de deitar  e la nave va uma nave vã as uvas  permaneceram brancas e la nave va as uvas são falos broncos uns maribondos sem fogo uns moribundos sem gozo esqueceram de deitar o rouxinol entoa um jazz sem arriscar ensinar como se canta aos pardais pardais se apressam                                     corrigem o canto dos rouxinóis se esqueceram  nas ruas, a noite não adormece      nos olhos das mulheres Negras e no beco da memória faremos Palmares de novo

poema para marrom

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poema de Eduardo Sinkevisque Poema para Marrom Não se pode mais estar nos mesmos lugares que gente execrável está. Não se pode mais respirar o mesmo ar que gente execrável respira. Mas ela não estava apenas no mesmo lugar. Mas ela não respirou apenas o mesmo ar. Ela sambou e cantou. Ela ainda convidou para sambar e cantar gente execrável com quem não se deve sambar nem cantar. Gente execrável se tem que execrar, oh vós, os super-nutridos da execração nacional. 

lulalivre

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poema de Ricardo Chacal brasil, esse bando de precarizados que votam com medo de perder o pouco que ainda tem brasil, essa oitava economia do mundo onde o dinheiro vai  para os poucos que tem muito brasil, esse país injusto esperando a primavera pra se libertar lula livre lula lá

oito ou vinte e oito minutos

poema de Marcelo Martins Silva Oito ou vinte e oito minutos Escrever oito Ou vinte oito minutos Tempo suficiente para ver a luz do fim da tarde Entrar pela janela Vê-la com ilimitada nitidez, como coisa concreta Um punhado de areia em descanso perpétuo – Se fosse de Albatroz poderia reconhecê-la Pelo gosto de morte e verão Senti-las como um esquecimento ao redor da cabeça Um cansaço que adormece os pés O desaparecimento total de todos os minutos Um salto para fora do sono O esquecimento d’água O esquecimento dos ossos O esquecimento como um despertar dos séculos Em um ponto longínquo de nós mesmos Lá onde as palavras germinam Tão mais próximas do sangue e da terra

rapsódia para um desastre

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poema de Duan Kissonde [vídeo cassetadas]& ou rapsódia para um desastre, [acompanhamento: gaita de boca] e desligarão os aparelhos do cine vitória. mesmo com o ronco moto-contínuo das lotações, em seu vai-e-vem frenético e fumarento, mesmo com a loucura dos dólares e euros trocados ali mesmo na calçada, mesmo com o silêncio cansado das meretrizes já cansadas que ficam sentadas por aí pelos bancos das praças públicas, mesmo com o latido lancinante da cadelinha do Alemão, [uma célebre figura das ruas & morador delas], mesmo com o burburinho jornalesco dos engraxates, mesmo com a barganha barata dos vendedores de morangos da esquina da andrade neves.   mesmo tendo alguma canção senegalesa como pano de fundo disto tudo. mesmo com todo esse caos. ainda sim se ouvirá o estertor. o último suspiro. do último cinema de calçada da cidade de porto alegre. e depois chegará a vez da banca de jornal, do chaveiro, do sapateiro, do engraxate, do afiador de facas, do vende

o custo da democracia & o wifi

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poema de Adriane Garcia O custo da democracia ou O wifi diminuiu a solidão dos idiotas Quando os idiotas não tinham wifi O mundo já era ruim Mas a gente percebia menos Porque o mundo sempre teve idiotas Mas nem sempre teve wifi e agora Nenhum idiota se sente mais sozinho.

cobra

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poema de Demétrio Panarotto [imagem: Lorenzo Panarotto] Cobra                                                                                            I cobra na fatura mordida sem medida à prestação da morte sangue já fora das veias sorriso de testemunha o fim é dependurado II cobra no boleto felicidade em vidrinhos boletas pagas boletas pagas mordida lenta sono alguns meses de vida corpo parafusado no caixão III cobra na duplicata um duo de miséria as presas inoculando servidão servilismo só solta a vítima depois do acalanto IV cobra em prestação parece aperto de sucuri morte a bem suada puxa o ar nem vírgula vem baba no canto da boca sorriso amarelo pastel V cobra juros e correção... tipo cobra curral nem juras de amor chupando o próprio rabo pra se manter quase morto risco de vida nulo VI cobra no cartão                                                                     

tudo bem

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poema de Leo Gonçalves TUDO BEM está tudo bem, meu bem eu sei porque eu vi na tv está tudo legal a nível nacional eu sei porque eu vi no jornal a vida é bagatela, minha bela eu sei porque eu vi na novela está tudo como sempre esteve eu sei porque não teve greve está tudo perfeito eu sei, votei pra prefeito está tudo bem com a gente, minha gente você sabe, vamos votar pra presidente está tudo bem não se preocupe digo isso pra que você não se culpe está tudo conforme os planos não faz mal, a gente sempre passa um pano eu sei que você tem passado fome fome é vida, não reclame não faz assim, tá querendo colo? está tudo dentro do protocolo eu sei que você tem passado por crises não pense em crise, take it easy porque está tudo bem, meu bem eu sei, eu vi na tv está tudo legal a nível nacional eu sei, passou no jornal e amanhã há de ser outro dia é carnaval, pessoal o país vai acord

no vau da Tempestade

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poema de Kleber Ramon ÁFRICA, no vau da Tempestade Nos anos finais do século Quinze A Europa imerge nos mares de África. Contornado-a, apossam-se da terra. Armas de fogo e recursos da língua. Portugueses, ingleses, espanhóis E outros mais que se enxergavam maiores. Da Igreja, a parcimônia – cristandade. Disfarçados chegaram de homens bons.   Invadida o ventre, talhada em partes; Os maiorais dos brancos traçam linhas Divisórias sobre povos, etnias. Brancas posses: da terra às criancinhas. Por causa disso e mais, até agora: O caos, agonia de febre terçã. Da África mãe, órfãos mundo a fora; Rogantes, herdeiros de Caliban. Colônia por quase quinhentos anos, Da tirania e cobiça da Europa; Reflete e marca a vivência de agora Norte ao sul do Continente africano: Em Maputo, musseques e o lixão; Em Luanda muitas vozes se calam; A Guerra Civil; a Esmola de Merca. Fome de ser, inda mesmo sem pão. No Congo os co

papo reto papo

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poema da José Antônio Silva Papo reto papo Papo reto correto quando faz a curva papo reto não engole sapo quando bate papo papo reto é digno quando fica mudo papo reto repete pra quem faz de surdo papo reto acena pro amigo burro papo reto ensina pra conversa insana papo reto entorta a mão que afana papo reto equilibra quem está na esquina papo reto: janela que a tudo ilumina.

morri

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poema de Marlon Pires Ramos Morri Domingo frio rolê errado morri fiquei sem celular perdi sem contato com o mundo morri a preta tá preocupada e braba morri? tô me sentindo culpado por forças alheias a minha vontade fiquei sem contato tô desesperado dependente de celular tipo viciado tô cego de raiva tinha uns verso guardado meus verso tem origem preta tipo avião que perde a caixa preta peço desculpa por não avisar as pessoas que amo vou fazê uns corre pra voltar logo não ficar off Tipo Djonga ficar sem celular vai toma no cu ficar sem internet vai toma no cu intervenção militar? vai toma no cu de novo!

o povo de deus

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poema de Cristiano Moreira  [foto: Sandro Silva] O povo de Deus não se trata apenas de corpos não se trata de matéria que se desfaz como pó pele e ossos com o pó das ruas anônimas os corpos nessa terra sagrada canaã, sião cujas semelhanças são, não são meras coincidências sofrem como há milênios, sofrerão a crença vã de acreditar na igualdade sem nomes estão diante do estado do pai que mata ou deixa viver os corpos moídos na castanha dos obséquios eleitorais, da voz mais fraca que a foz de uma vala da fala que repete o podre nas salas a faca que avança como as marés de chorume das câmaras legislativas e licenças ambientais nada entendem de corpos dignos sião. serão os teus, aqueles que provam a resistência dos corpos testados a multiplicação dos mortos que andam vivos pelo bairro acenando para câmera sião, serão menos que promessa, serão como o fosses algum dia na escritura serão menos que gente essas criaturas?