ezequiel
poema de Alberto Lins Caldas
ezequiel
● sou eu q subo a porra daquele morro ●
● dizendo encalacrada se pelo menos ●
● no barraco eu tivesse um macho ●
● com caralho de jumento ●
● depois dele me chupar e chupar ●
● gozando feito cavalo e eu gozasse ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q lavo a casa deles desde ●
● o começo do vamos nos lascar ●
● basta olhar pra ver q sou a coisa ●
● q faz essa gente todo dia respirar ●
● faz essa gente ter o q cagar e mijar ●
● ?como seria diferente outra coisa ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q arrumo a casa deles ●
● tiro a areia do deserto dessa gente ●
● gente asquerosa q so faz rasgar ●
● o cu da gente e aumentar o deserto ●
● como bolo seco desses bem ruins ●
● gente sordida q da asco e fede fede ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q passo e lavo e sujo e lavo ●
● os panos as roupas dessa casa toda ●
● como se lavasse as merdas e o mijo ●
● dos meus filhos eles dizem e repetem ●
● porq berram dizendo q assim sujo ●
● o q limpo q so faço merda na merda ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q cozinho na casa deles ●
● enquanto eles gritam q bosta aguada ●
● comer isso é o mesmo q comer esterco ●
● enquanto eu lavo os pratos lambidos ●
● apanho os restos das bocas sob a mesa ●
● enquanto berram ?por q não come isso ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q varro a casa jardim e quintal ●
● a merda dos cães como limpa o cu ●
● eles berram enquanto varro a frente ●
● penso q assim vão viver meus filhos ●
● num barraco nessa dor nesse sem fim ●
● no resto de porco q escorre la na rua ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● sou eu q jogo o lixo enquanto eles ●
● berram pra bem longe e eu ando ando ●
● pra longe toda noite pro meu barraco ●
● com o lixo deles e espalho aqui dentro ●
● entre filhas e filhos o cão e o macho ●
● bebado sem caralho de jumento ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
● fico aqui pensando ?por q servimos ●
● essa gente ?por q não assamos todos ●
● no mundo como galetos e chupamos ●
● os ossos bons pulando leves e violentos ●
● sugando o suor a vergonha q nos cria ●
● todo dia como deuses de merda e ouro ●
● nessa merda de pais q nunca existiu ●
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alberto lins caldas publicou
os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP,
Recife, 2008); os romances “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e
“Veneza” (Penalux, Guaratinguetá, 2016), e os livros de poemas "No
Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Rio
de Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013),
“4x3 - Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014) com Tavinho
Paes e João José de Melo Franco), “a perversa migração das baleias azuis” (Ibis
Libris, Rio de Janeiro, 2015), “a pequena metafisica dos babuinos de gibraltar”
(Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2016). Blog:
www.poemasalbertolinscaldas.blogspot.com.br

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