mortes morridas

poema de José Antônio Silva






Quatro mil mortes morridas


Quatro mil mortes morridas
quatro mil mortes matadas;
tivesse eu mais uma vida
deixava as contas desempatadas.

Quatro mil mais quatro mil
é minha bagagem de vidas
(das matadas e das morridas)
– por que não mais oito mil
pra serem agora vividas?

Não: mais uma vida é o que peço
ou essa mesma mais comprida;
a fieira de dias que meço
não basta para minha lida.

A modo de dizer mais tempo
recordo os filhos por criar;
sugiro minutos mais lentos
e encho o pulmão de ar.

Você que me ouve sentado
levante pra essa escutar:
eu só vivo desarmado
porque me ensinei a cantar.

Não me solte o cão danado
na depressão do terreno.
Já enfrentei esse fado
– e a vigília não atênuo.

E vá-se embora, Seu Coisa
que aqui não é seu lugar;
meu jardim tem pouca rosa
mas espinho não vai vingar.

E agora me despeço
respingando sol e chuva
(e disso também o avesso)
porque essa vida – eu lhe garanto –
me serve como uma luva.

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