NA FAXINA



NA FAXINA COM A MARGARINA

enquanto isso cunha trabalha na “faxina”
distribuir quentinhas aos “colegas” é a sina
a rotina começa às 6, relógio na retina
recebe carrinho com pães 
untados a margarina 
nada amoroso como as mamães
café com leite e fruta
vai de cela em cela 
sem mexer na taramela
empurrando na força bruta
de cubículo em cubículo 
“paga a boia” aos moluscos
espiando de canto outros zumbis políticos
como andré vargas luiz argolo gim argello
lesmando indo e voltando
se arrastando indo e voltando
de um extremo a outro do pavilhão
cunha parece xerife na contramão
recusou abraço de dono de construtora 
com credencial que veio na maior finura
afastou o sujeito viu o carão
de contrariada desaprovação 
nem liga já tem a julga dos carcereiros
é um dos mais frios porém maneiro
dos duros que passaram pelo presídio
sem demonstrar sentimento por só ofídio

[Ademir Demarchi, do livro inédito Gambiarra - uma pinguela para o futuro]

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