o vão enorme

outro de Ricardo Silvestrin



VÃO

Ainda há pouco, nem direita
nem esquerda mais havia.
Pelo menos, era a ideia
que mais se ouvia.

Claro, estratégia de discurso
de direita para tornar aceita a versão
"depois da queda do muro
de Berlim, o comunismo chegara
ao fim".

Mas, com o advento do governo
de coalizão, tudo virou
um enorme centrão, estratégia
de discurso de esquerda
pra fazer a distribuição de renda.

E, como a meta era distribuir,
quem tem bastante queria mais,
e assim todos ganharam,
um pouco uns e outros demais.

Oportunidade pra posar de santos
os liberais, que sempre precisaram
de um inimigo, o comunismo,
pra serem os heróis contra o perigo.

Assim, tudo o que não for
o estado mínimo, para eles é o mal,
e saem demonizando de político a artista
com a pecha de comunista.

Como hipérbole com hipérbole se paga,
"seu capitalista fascista e nazista"
é a resposta a essa nova praga
que faz do país uma terra de puristas.

De um lado e de outro, todo mundo
é perfeito, todo mundo tem razão.
No entanto, entre a palavra e o real
sempre tem um enorme vão.

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