reparação

poema Marcelle Guil





  
Reparação


não, este poema
não tem a pretensão
de acabar com a fome
no Sudão
nem deseja
com estatísticas mostrar
quanta gente morre
no Afeganistão
vítima de guerra e invasões
tantos anos sem poder sonhar
e não sei por que razão
a paz decidiu
não dar as caras por lá

não, este poema
sequer pensa em denunciar
os impactos de Belo Monte, no Pará
o dilema de famílias que não têm onde morar
indígenas forçados a sair da região
a mata gemendo do lado de cá

não, este poema
tampouco tem a ambição
de tratar das formas de dominação
colonialismo, imperialismo
comércio triangular
muito menos quer apontar
que a abolição não pôs fim à escravidão
que a igualdade, a liberdade
são reais só para alguns
tantas vidas querendo se salvar
e tão poucos com direito ao galardão

a verdade é
que a humanidade
precisa de reparação
mas este poema
nada vai mudar
só mesmo juntos
uma multidão
na diversidade
tornando-nos um
(um por todos, todos por um
e nenhuma a menos
nenhum índio, negro
ou criança a menos
nenhum gay, trans
ou lésbica a menos
nenhuma pessoa
em situação de rua  
refugiado, cadeirante
ou idoso a menos)
podemos vir a conquistar
a dignidade, a paz
e as oportunidades
de que todos merecem
desfrutar

não, este poema
não tem a pretensão
de se chamar poesia
mas não abre mão
da utopia
nem subestima
o poder
da união






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