sítios patrióticos

dois poemas de Carla Diacov




a mão patriota



aí vem a mão patriota
com neve pelo cúmulo
com areia entre os dedos
no cerrado do gesto
a mão atravessa a cidade
rios sítios sítios arqueológicos
circos discussões bailes rodas de samba
a mão atravessa avenidas praias
canaviais matas pomares escolas
a mão patriota atravessa favelas
condomínios de luxo acampamentos
protestos manifestações intervenções
artísticas intervenções policiais políticas sociais
aí vem a mão patriota
com nada pelo cúmulo
com nada entre os dedos
no cerrado do gesto
aí vem a mão patriota

veio se alistar



*



canário caralho plenário armário tumulto em pó

um dia alguém vai dizer que foi comovente e
um dia alguém vai dizer que foi significativo e
um dia numa hora estranha alguém dirá que
foi o fim
nessa mesma hora estranha uma multidão vai sussurrar
foi um espetáculo
assim sem ênfase sem solenidade
um espetáculo e só
e ainda estará para nascer aquele quem que
sempre esteve para nascer
vai nascer e gritar que foi nada
vai crescer cantarolando naaaaaaadaaaaaaa
vai conhecer aquele outro
não temos sempre alguém que será aquele alguém
que está para nascer?
aquele outro que vai nascer apenas para
crescer e ter voz para ditar
aos todos outros que estarão para nascer
o país estava na merda e
a criatura
tinha um fósforo um cigarro uma escolha






Carla Diacov, São Bernardo do Campo, 1975.
Livra-se em Amanhã Alguém Morre no Samba (Douda Correria, Portugal, 2015), A metáfora mais Gentil do Mundo Gentil, (Macondo Edições, Juiz de fora), Ninguém Vai Poder Dizer Que Eu Não Disse (Douda Correria, 2016), bater bater no yuri (livro online pela Enfermaria 6, 2017), A Menstruação de Valter Hugo Mãe (editado pelo escritor português, no projeto não comercial Casa Mãe, Portugal, 2017), Dois Pontos Pescoço X Sobreviventes (no prelo pela Editora Urutau).


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