habitante do poema preto

Marcelo Martins Silva






Habitante do poema preto  


Trago as veias abertas no asfalto 
E aqui na cidade sitiada vejo 
Corpos mutilados, restos de estrelas, 
Gente esmagada na paixão do progresso 

Sou o poema não permitido pela academia 
Desalinhado, sem métrica nem rima
Leitura proibida 
Aquele que se formou fora de idade, 
Numa faculdade qualquer. 

Sou do quintal da casa
Enraizado nas entranhas do tempo 
Da colônia africana, periferia e gueto,
Filho do morro Santana 
Verso de mais de mil quilombos
Percorridos por navio, terra e ônibus 

Sou o poema de pele escura 
O não lugar em nenhum lugar do mundo 
A voz dos que caíram afogados
Mas também a mão da resistência
Dos que chegaram até aqui
Pra escrever com sangue a palavra liberdade

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