novembro negro
poema de Marcelo Martins Silva
Novembro
negro
A vida acontece quando
Desatento atravesso a rua
E lembro
a travessia que nos trouxe de lá pra cá
embarcação cortando o mar
Mas a nós não é permitido
andar por aí distraídos
Sem carteira de identidade
Sem lenço nem documento
Não somos
Apenas rapazes latino-americanos
Pretos
Suspeitos
Culpado antes mesmo de ser julgado
A cor da minha pele ativa os sensores da cidade
Seguranças, lojas, bancos
Todos espantados
Brancos
Os olhares de quem pensa que já sabe
Porém se engana
E escreve no jornal que tem medo
Medo do meu cabelo afro, do sorriso aberto
Da minha roupa, do meu jingado
Mas na verdade é medo do nosso punho cerrado
Medo do nosso povo na universidade
Cortando corrente,
África brasileira
Gente de aço
Que não dobra nem quebra
Dessa selva somos reis
Portanto, cuidado
A hora da festa (es)tá acabando

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