vai assim mesmo

do editor





não é bem um poema, mas vai assim mesmo


1.

denunciamos o genocídio dos jovens negros

as estatísticas confirmam: feminicídio
não é apenas “mais uma palavra que anda em voga”

a truculência heteronormativa assassina gays lésbicas travestis e trans

o racismo antinegro se adapta aos novos tempos e segue nos desrespeitando ordinariamente nas calçadas nas redes sociais na teledramaturgia

o ódio das forças policiais em relação às manifestações políticas (ódio que jamais
deixou de latejar e agora revem revigorado)
é a oculta cara de bunda da democracia representativa

o receituário neoliberal só faz piorar as desigualdades entre os investidores
e os sem-saneamento básico

esquerda: até hoje não sabemos como lidar com a coisa
para as elites estúpidas esquerda é comunismo de almanaque
para o povo pobre esquerda desemboca em populismo

em nossa história republicana a regra é a direita ocupar o poder por meios ilegítimos
direita: whores for eleusis corpses are set to banquet
o canto (xlv) contra a usura, de pound, traduz à perfeição essa outra coisa


2.

todas essas situações e questões estão na prancheta há muito tempo
a nação é uma mula que empacou uma mula que deixamos empacar
tudo vem se reinaugurando sabe-se lá há quantos anos

tanto que já indiferentes nos reportamos aos senhores guardas dos portões
repetindo o chiste de sempre
como se o terreiro não nos dissesse respeito:

aqui tudo segue normal
morreram dois ou três israelenses e vinte e tantos palestinos

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