insumos não brancos para a poesia contemporânea

do editor





insumos não brancos para a poesia contemporânea


o tema do debate eleitoral já é a segurança,
em outras palavras, a repressão, o chicote.
ao dissertarem sobre o tema, candidatos à direita e à esquerda
seguirão obedientes a máxima machadiana
segundo a qual o melhor modo de segurar o chicote é pelo cabo.
zoos humanos. vacinação obrigatória
contra a varíola em 1904: varrer a pobreza para longe.
a república abate canudos.
a intervenção: fichamento dos moradores de favelas.
para sair de casa tem que se deixar fotografar junto com o rg.
por um lado
a nobreza de exportação do samba que é do morro;
por outro, o fetiche da farda,
último refúgio da ordem positivista.
– alô, o brasil, por favor. 
– o brasil não se encontra. quem deseja?
"a intervenção é administrativa e não militar".
o general interventor começa a montar sua equipe
indicando dois outros generais.
com esse gesto dá a entender que, é isso mesmo,
esses civis são todos uns moleirões corruptos
e não têm colhões para botar ordem na coisa,
na casa dos apátridas.
todos os moradores do morro, crianças inclusive, são suspeitos.
todos os negros, de preferência, são suspeitos.
o general braga netto, cabeça (de vento)
da intervenção, não faz nenhuma aparição pública
para explicar o que quer que seja.
insiste na velha prática militar do autoritarismo
e do desprezo em relação às normas republicanas do mundo civil.
imagina se ele vai dar conta dos seus atos
ao pessoal que anda à paisana.
a intervenção militar-federal
sem demora começa a apresentar suas verdadeiras armas:
profundo desrespeito aos direitos
políticos mais básicos das pessoas;
racismo institucionalizado;
o garrote da ordem unida, da formatura;
e uma imprudente nostalgia dos regimes
de exceção e sua moralidade de fachada.

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