Mãe da Nação


poema de Eliane Marques







WINNIE – Mãe da Nação


Esses teus punhos de 1936 viram
As remoções forçadas dos corpos
As lojas e os hospitais trancados a prego
As escolas de segunda classe
As armas brancas 
Os tiros no meio da cara
As peles furadas nas cercas de arame farpado

Esses teus punhos de 1936 viram
O desterro para Brandford
A retenção em Soweto
O banimento para Orange

Esses teus punhos clandestinos viram
O medo nos dedos de Zindzi e de Zenani
E as farsas dos julgamentos por alta traição

Mas esses teus punhos
Pularam os bantustões e rasgaram os passes
E viram o enterro de todos os chacinados por perturbação da branca ordem
E viram a parede branca onde mijavam os soldados na prisão de Robben Island

Teus punhos, Winnie, a seta envenenada contra os claros chifres do estado
Punhos que reverberaram os pedaços de pão seco sob o duro das grades

Winnie, o teu luto no seio trespassado guarda o grito das bocas desdentadas  
Porém, no lugar onde teu sonho tropeçara com os valões e os baldes
Aí teus punhos cerrados como a ponta de lança de uma nave

Que não te perguntem por tua “radicalidade”
Que não te perguntem se és uma mulher
Que não te apontem agora a metralhadora da dúvida
A tua dor foi um punho pelo céu sem nuvens

Winnie, escuta
Aqui se ressuscitam os velhos bantustões
São vigiados por criaturas vestidas de musgo

Aqui, Winnie
Um outro apartáid onde resvalam meninos com cara de luto

Por isso
Amandla
Awethu!

Por isso Nonzamo Winifred Madikizela
Amandla
Ngawethu!


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