poema uma pessoa coletiva
poema de Marcelo Martins Silva
O poema é uma pessoa coletiva
No domingo pela manhã nasceu um poeta magrinho e de olhos vagos
E também outro poeta na esquina, sentado no chão
Um catador de versos, pescador de sentimentos rejeitados
Vermes astrais nasciam quando ele falava.
O outro, poeta magrinho
Vivia enredado na métrica da classe média
Seus olhos eram vagos de insônia
Causada pelas polêmicas na internet
O outro era torto e nem se sabia poeta
Apenas empurrava seu carrinho
Arrastando a vida debaixo dos pés descobertos
Sua voz era o concreto
Estranha mania de resistir ou de não ter onde cair morto
Sobre o asfalto largo da cidade, um dia se encontraram
Um a olhar vago, o outro a correr frenético
O vago desceu de seus pensamentos, ancorou-se na pedra
E a velocidade e a violência lhe atravessaram
O pescador não lhe reconheceu
Mas mesmo assim ofereceu uns versos
Para que pudessem mastigar poesia
Pois era disso que vivia
E o que ele era, ofertava às pessoas na avenida
Comeram, comeram tudo o que podiam
Fartos, depois disso, jamais se encontraram
E o poema, a partir de então
Tornou-se um.
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