lua à vista ou uma resposta a leminski


poema de Guilherme Medeiros







lua à vista ou uma resposta a leminski


quanta ingenuidade, paulo,
acreditar na mera dúvida sobre 
a presença ou não 
da luz sobre auschwitz
a lua brilhava sobre auschwitz
a lua brilhava sobre a Estácio
a lua brilhava sobre cada labareda de carne viva queimada
a lua brilhava sobre os ratos metidos nas mulheres da ditadura
a lua brilhava sobre a Shoah, sim
a lua brilhava sobre auschwitz
a lua brilha hoje sobre o golpe
a lua brilhou sobre os aplausos ao casamento real
a lua brilhava sobre os navios lotados à todo custo de carne negra tomada para escravidão
(mesmo que não coubesse sequer um feixe de luz que pudesse ser refletido pelas peles azuis, a lua brilhava)
lua à vista
dando contas de que a magnitude da natureza não se dobra diante da mais desastrosa barbárie humana
não somos daqui
e a lua continua a brilhar
não estaremos mais aqui
e a lua vai brilhar
(sem contar o sol)
vamos explodir em átomos à deriva sob a terra e misturados ao oxigênio 
e a lua vai continuar brilhando
a natureza não se dobra diante da mais desastrosa barbárie humana
e a lua continua a brilha
a lua brilhava, leminski
sobre primo levi
sobre anne 
sobre mariele
sobre dilma
sobre matheusa
sobre dandara
sobre zacimba gaba
sobre o grito do ipiranga
sobre as reuniões do KKK
sobre os cultos a jesus cristo
a lua brilhava e continua
brilhando
a magnitude da natureza não se dobra diante da mais desastrosa barbárie humana, leminski
sem idealismos esteticistas
não tem apelo estético nenhum que se possa servir a dizer o indizível
mas a lua
ela brilha, ainda,
como brilhou sobre seu enterro, também, paulo. 



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