FICÇÃO CIENTÍFICA
poema de Eliane Marques
FICÇÃO CIENTÍFICA
Não posso respirar
não posso respirar
enquanto isso da plataforma de lançamento 39
astronautas brancos vestidos com seus estilosos trajes brancos
cujo branco não é o de oxalá
embarcam na cápsula crew dragon
o falcon 9 sobe pelo céu como um dardo incandescente
“É possível que aqui exista uma oportunidade para a América de, talvez, fazer uma pausa, e olhar para cima e ver um brilhante, resplandecente momento de esperança sobre como se vê o futuro, e que os (...) podem fazer coisas extraordinárias até mesmo em tempos difíceis”.
então mais uma nave chega ao espaço onde será construída a sociedade
onde o sonho americano será
sem que gente seja um fardo
uma sociedade totalmente branca
com uma brancura que não a de oxalá
o falcon 9 então sobe pelo céu como um dardo incandescente
duas pessoas brancas com camisetas brancas
com uma brancura que não a de oxalá
olham para cima
assistem à sua decolagem
estão com o pescoço firme olhando para cima
enquanto na terra, como seus arrendatários
a gente que aqui continua
olha para baixo e continua olhando e continua olhando
com o pescoço firme o nariz tampado
sob a pressão da sola de alguma bota
sob a pressão do joelho de algum “amo”
enquanto a sociedade do futuro olhando para cima aspira almíscar e chanel n. cinco
imune ao encanto do cheiro da morte
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