Os urubus

 

poema de Demétrio Panarotto

 

 

[imagem: Roberto Panarotto]


Os urubus

 

                                                                                                    

o robô pacto noite

caminha pela cidade com o urubu em seu ombro

                                                             [lua violeta van gogh linda pra uma fotografia ou]

o robô sobe em uma escadaria externa que o leva ao trigésimo andar de um prédio abandonado

                                                                                         [nem todos estão abandonados]

é o bicho de pena que indica onde a presa se encontra

prontamente localizada

a lata velha desce por uma corda de aço e não leva mais de vinte e um segundos para

                                                                                                                    [chegar ao solo

o cérebro exposto da presa tem o formato de um intestino

outras anomalias são percebidas

o robô ajeita uma máscara de pano no rosto e conduz a vítima até um pátio

que o levará até um corredor

que o levará até uma sala ampla

que o levará até uma cratera

que o levará até uma composteira - de gente - grande muito grande imensa

pau a pau em tamanho com as do antigo frigorífico de abates de aves e suínos

 o corpo é depositado e tragado pelo mosto

glup

são milhares de urubus teleguiando os seus servos e fazendo a parte pra cá do muro

                                                                                                                      [prosperar

a noite está só começando

o trabalho é exaustivo

de longe

se tu estiveres de longe

ouvirá outros tantos glups marcando a cena

se tu estiveres perto o ruído engolirá o teu ouvido

independentemente da distância

é a máquina do dinheiro na sua ânsia de concentra-lo na mão dos mesmos

pela manhã

na parte murada da cidade

um casal e seus dois filhos saem de casa carro espaçonave cheio de botões de controle

a menina pergunta se são urubus aquilo que ela avista ao longe

e a mãe responde

- são, e diz pra menina, mas não precisa se preocupar, pois os urubus são necessários e nunca a farão mal

a menina responde:

- eu adoro as propagandas dos urubus no intervalo do jornal nacional

- todos nós gostamos, querida, responde a mãe, entusiasmada com aquilo que pensa ser o lado prodígio da filha.

a menina gruda o rosto e fica fazendo bafinho pra embaçar o vidro

repete várias vezes o movimento

os urubus nesse momento parecem perto parecem longe

parecem perto

parecem longe

parecem perto

parecem longe

parecem perto

parecem longe

perto

longe...

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