ecce homo

poema de Leonardo Antunes





ecce homo

esse homem, enterrado até o pescoço
na pilha de embalagens e dejetos,
recuperando um naco de alumínio,
um papelão e três garrafas PET,

ou empurrando pelo asfalto quente,
das cinco da manhã às seis da tarde,
duzentos quilos de quinquilharia
no dorso da carroça improvisada,

talvez um dia tenha tido um nome
de que talvez se lembre mesmo que hoje
atenda apenas por fonemas soltos;

talvez nem saiba de que ventre veio
nem a que ventre vai no frio da noite,
quando a tristeza vence o coração.

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