kur ity ba
poema de Aldo Votto
kur ity ba - Praça
Tiradentes, 1937
*baseado em texto original
de Vinicius Carvalho/2018
cidade infundada
índios, só a língua
nome, só o nome
deboche da história
herói da liberdade
designa praça arcaica
troncos trocados
por braços em riste
todos homens de bem
troantes machos sigma
das copas em taça
só o verde-oliva
da voz dos índios
só o anauê cuspido
praça sossegada
ninho em paz
oitenta anos
choco e viveiro
eclodiram sóboles
e por metáboles
viraram hipérboles
armadas de chumbo
madrugada covarde
balas contra a ideia
sob tendas indefesas
projéteis patrocinados
doutores e confrarias
a purgar seus pavores
beduínos sob uma estrela
ojerizas herdadas
mortos-vivos da praça
cazumbis hidrófobos
bisavôs galinhas-verdes
e então?
daí que...
"mais amor,
por favor"...
"liberdade"...
só em norueguês
ou na canção
do inconteste
mestre baiano
filho de Gandhi
pelo ódio de véspera
um astênico molha a tevê
em vez de gritar mais alto
que o disparate dos disparos
é tempo de ricochete
rechaço, retruque
quem
atacado
não revida
é gado
cingido
no brete
no abate
basta de ser alvo fixo
que ecoa falatório
magnânimo metafísico
invoca Ogum, Áries
outros astros do destino
alto lá com a “lacração”
e com os engulhentos
“não passarão”...
“o amor vai vencer o ódio”...
precato com vossa vênia
São Jorge não tem predileto
entre vosmecês e milicianos
e eles o querem padroeiro
algoz e humilhado para deus
banhadas de livre arbítrio
como escrito lá no livro dele
esta pugna será vencida
por quem armado estiver
é o vento concreto uivante
posto que o mundo é cão
urge beber de novo
alguns fartos goles
d’água sestra sestrosa
ímpia, profana e barítona
brindar aos que tombaram
aos que venceram a luta
antifascista contra nazis
sem disfarces e antifaces
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