o acrobata

poema de Silvana Guimarães




[imagem de Diane Arbus]


o acrobata




para carlos augusto lima


eu sou a mulher barbada do semáforo
e você me olha de esguelha com nojo
fecha as mãos ao volante com força
trinca os dentes aumenta o som e se
apavora com o brilho do meu dente
aquele de ouro no lugar do que perdi
com um soco numa noite de chuva
não sou mais o triste fantoche que
amava o engolidor de fogo e vivia 
com o atirador de facas: sobrevivi
a minha miséria & a minha ousadia
lhe deixam constrangido: agora você
ignora meus panos de prato de chão
acelera de volta para casa onde lhe
espera a mesma solidão às avessas
o seu silêncio debatendo-se entre a 
louça na pia & o recibo da pensão
alimentícia: sim o que lhe resta então
broder: improvisar um samba-enredo
louvando as espetaculares conquistas 
femininas da última década: a mesma
daquelas almas fêmeas que existiram
para seu usufruto: apenas meras biscas
aí incluída a mulher armada que partiu
o estômago embrulhado você girando
girando girando no globo da morte
e essa vontade de rasgar os pulsos
antes de despencar no despenhadeiro
enquanto murmura: el gran ilusionista

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