Manifesto Canibal dos Direitos
poema da Aldo Votto
Manifesto Canibal dos Direitos
Para Raquel Domingues do Amaral
antes de mais nada
fedemos
uma jantarada
carcomemos
músculos e vísceras e carnaduras e ossamentas
cabeças e pernas e troncos e braços
tudo flambado
fogueira e fornalha e incêndio e pólvora
tudo espetado
estacas e mastros e lanças e postes
tudo podre
azedo e coalhado e embolorado e fermentado
tudo refogado
lágrima e leite e muco e saliva e
sebo e sêmen e urina e vômito e
sangue e sangue e sangue e sangue e sangue
basto e farto e lauto e tanto
tudo excretado
papa e polpa e papel
artigo e caput e parágrafo e
inciso e alínea e item
impressos com plasma
de crianças esfaimadas
editados com bílis
de negras convulsas
matizados com mênstruo
de índias violentadas
data maxima venia
ab ovo escravizadas
post scriptum
nota bene
cada um de nós
que é usurpado
que é revogado
que é cassado
só se verá reencarnar
sobre carnes moídas
por novas revoluções
Comentários
Postar um comentário