levante revanche


poema de Alex Ratts





levante e revanche


não chegam a ser metade e ocupam espaço demais no mundo
o mundo, que dizem querer transformado, tem sempre sua imagem e semelhança
os grandes edifícios, os equipamentos de alta tecnologia são seu espelho
suplantam o nome africano na base das construções e das invenções
uma cidade, uma universidade, o mapa de um país ou do mundo, tem a sua cara
às custas da gente subalterna morando ou morrendo na rua ou encarcerada
cobram trabalho doméstico, não sabem quem são as trabalhadoras
são pessoas polidas, classistas e racistas
veem manchetes de morte de gente subalterna e não fazem nada
estudaram muito, sempre em classes brancas
passearam e passeiam muito, sempre em companhias brancas
leem muito, clássicos de sobrenome e cabeça européia ou eurodescendente
escrevem poesia, romances, são conservadores
vêem a chegada de gente negra, indígena e acreditam que isso não vai mudar quase nada
viram emergir intelectuais indígenas, passaram a estudar intelectuais indígenas
observam o movimento da intelectualidade negra, continuam a estudar as culturas negras
se esforçam, educadamente, para conter essa chegada, a projeção, a explosão
quem manda nos seus grupos são os caras, os que se promovem, se digladiam e prosseguem
muitos e algumas vivem uma sexualidade dissidente, devem e querem se adequar
no seu meio, há mulheres de decisão e criação. de fato, elas não mandam nos recursos
com seus ismos de nomes bonitos, dizem que fazem mudanças, é apenas uma dança
seus ismos contém sadismo, sexismo, classismo, racismo e saudade do escravismo
separaram a ciência da arte e do mito, enquanto seccionavam corpos
fizeram uma revolução industrial, às custas da violência colonial
fizeram arte moderna, junto com a pilhagem da arte africana
estudam o curioso, não o que é relevante
ficam aguando palavras fortes, até ficarem aguadas
parece que tudo tem a sua máscara, a sua cara
posam de alternativos e são heteronormativos
parece que continuamos com a marca do poeta: emparedado
um intelectual negro anunciou a revanche, rappers indígenas fizeram um levante
uma intelectual negra anunciou a guerra étnica, agora ela é vista, ouvida e lida
a terra étnica tem nome, ainda não foi demarcada
festas potentes pretas e arco-irisadas não lhes cabem
mulheres negro-africanas fazem a literatura que revê e reverte os lugares, as imagens
a gente subalterna está vindo, vendo e se movendo: arte contra a morte
teatro de guerrilha versus a conversa de salão, um drum-tambor contra a fala mansa


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