diante de ti
poema de Ramon
Carlos
Diante de ti
No
mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante
de ti,
Em
meio ao véu soturno
Do
primeiro sopro cardíaco da manhã
Perpétuo
O
cheiro de abacate cortado
Indignas
Roseiras
em caules mastigados
Tiranos
Psicopatas
em cruzes de orvalho
Diante
de ti,
Bigas
transportando palhaços invisíveis
Quimeras
em estátuas de sal
Maçãs
nas teias de aranha
O
improvável mausoléu de heranças equívocas
No
mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante
de ti,
Godot
na corda de Lucky
Sabor
dos cachimbos de plástico
Colchões
em pé no canto do quarto
O
amargo estampido no palato do fantoche
As
ruínas nas migalhas de janeiro
Diante
de ti,
Sobremesas
antes do jantar
Nicotina
em doses curativas
Puxadores
soltos nos parafusos
Conservas
vazias embaixo da pia
No
mar que palpita os olhos, escarnece a alma
No
mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante
de ti,
Túmulos
em poses circenses
Acrobatas
no subúrbio animal
Embriaguez
em tempos de paz
Baratas
mortas dentro dos moletons
Almoços
em xícaras de papel
Adiante,
adiante, adiante
Elos
em crinas de borracha
O
improvável mausoléu de heranças equívocas
No
mar que palpita os olhos
A
planta do céu da boca
Antílopes
fumando cigarros de bronze
Cobertores
atirados em camas molhadas
Diante
de ti, escarnece a alma
Interruptores
amarelos como os dentes
Panelas
com cabos quebrados
Isqueiros
molhados
Pregos
de cabeça torta
Azeite
na garrafa de vinagre
Vinagre
no pote de sal
Sal
na boca do fogão
Buraquinhos
do chuveiro trancados
Alicate
que não abre mais
Diante,
diante, diante
De
ti
Não
adianta
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