O SUSTO DE ISAQUE


poema de Adriane Garcia




O SUSTO DE ISAQUE

Este pai cujo filho pergunta:
Papai, se as brasas e a lenha estão aqui,
Onde está o cordeiro?

Este filho, sabe-se, não é uma criança
Mas ainda assim sobe com a brasa
Ainda assim a lenha nos ombros

Este pai cuja esposa, sua meia-irmã
Chora, pois pressente, como se um demônio
Sussurrasse: seu filho corre perigo

Este filho obediente o bastante para abandonar
Sua mãe, sem compreender suas lágrimas
Para subir a montanha, no silêncio do pai

Este pai cuidadoso para não revelar o seu plano
Para não estragar a oferenda ao Senhor
Que ensina a preferir um filho morto

Este filho que aprendeu a não ousar
Adestrado cotidianamente para aceitar
Qualquer ato da autoridade do pai

Este pai que já se vê voltando sem o filho
Este filho que poderia ter sido um milagre
Mas que se deixa amarrar, mesmo tendo forças

Este pai que deita o filho sobre a pedra
Este filho que ainda procura o amor do pai
Este pai que só ama o Senhor das Promessas

Este filho que volta a ser criança
E se assusta.








Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

adoro os grandes capitalistas

à burrice

a despeito de