RESPOSTA A UMA RAINHA


poema de Eliane Marques






RESPOSTA A UMA RAINHA



Passemos à contra-ordem
ao desenterro de todos os mortos
cada qual com sua pá
e obituário 
às costas
como se uma capa
dessas longas, que varrem a poeira dos calcanhares 

Vamos ao desenterro dos mortos da covid
dos mortos da ditadura, das escravidões
dos assassinados pelas balas do estado

E quando os desenterrarmos
retomaremos os corpos
que nos foram confiscados

Aqui o mapa, vês?

Mas entenda que é desnecessário
as valas comuns os buracos
os cemitérios
estão à flor-da-pele

Vamos na procissão dos mortos
sem bispos pastores ou padres
vamos negros como se um luto permanente nos acompanhasse  
vamos sem coroas de rainhas ou tiaras
nossas flores serão os nomes dos que tombaram

Carreguemos agora mesmo toda essa gente às costas
sintamos esse peso, o peso da morte sob os sapatos

E para quem gosta das frases de efeito
a contar de hoje
“Todos somos um só morto”


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